Este é o episódio que abre a primeira temporada do LabCom, onde nos dedicamos a entrevistar quem trabalhou do lado das agências de Comunicação e Marketing.
O nosso primeiro convidado, o Filipe Bernardes, já tem uma carreira e um percurso longo no que diz respeito a Comunicação Digital e hoje em dia é Data Strategist na Publicis Emil uma agência global para a Mercedes-Benz.
O que se segue é uma transcrição automática, que não é muito fiel ao conteúdo do episódio.
00:00:08
Filipe: Naquela altura em particular eu lembro-me, chegava todos os
dias a casa e sentia-me uma fraude, mas uma fraude tremenda. Porque é
que eu estou aqui? Ou seja, estou a trabalhar com pessoas que claramente
sabem mais do que eu. Estou a trabalhar uma marca gigante, que tem uma
herança brutal ...
00:00:28
Bruno: Olá, eu sou o Bruno Amaral e este é o LabCom. O teu Podcast de
comunicação.
00:00:33
Bruno: Neste episódio vamos conversar com o Felipe Bernardes. Ele vai
partilhar conosco a história de como abandonou o Laboratório de Geologia
para procurar um caminho de trabalho na comunicação. Foi social media
manager da Super Bock, hoje em dia é estratega de comunicação Publicis.
Filipe, muito obrigado por estares aqui hoje.
00:00:55
Filipe: Obrigado por me convidares, Bruno.
00:00:55
Bruno: Poucas pessoas sabem que tu não começaste logo no caminho da
comunicação e do Marketing. A tua formação é em Geologia, queres
contar-nos o que te fez abandonar o laboratório para ir à procura de
algo que estava muito fora da zona de conforto.
00:01:11
Filipe: Isto é daquelas histórias antigas que já ficaram assim mais ou
menos guardadas. Hoje em dia já não são muito importantes mas no início
eram. Eu licenciei-em em Engenharia Geológica e com especialização em
estudos geo-ambientais estive a trabalhar durante muitos anos durante
alguns anos na parte de análise geoquímica e análise de dados
geoquímicos. Portanto há aqui uma parte que até trouxe uma certa herança
para aquilo que faço atualmente. E apesar da primeira da primeira
impressão ser sempre de "eu deixei de fazer aquilo porque não gostava"
É um bocadinho ao contrário. Foi mais uma questão de oportunidade e de
dar à luz alguns interesses que tinha cultivado na universidade ligados
ao design comunicação a parte da comunicação sem saber muito bem o que
era o que era exatamente isso tudo. E foi assim um bocadinho quase por
acaso que vim para na área da comunicação. Portanto estava na altura
estava desempregado. Era necessário um gestor de conteúdo para uma
agência de comunicação em Leiria e eu fui sem saber muito bem ao que é
que ia.
00:02:08
Bruno: Sem saberes ao que é que ias?
00:02:10
Filipe: Não fazia ideia. Não, esta coisa do Design e da comunicação
era muito engraçado na altura. Fazia umas coisas, paginava e não sei
quê, mas a verdade é que não tinha ideia sequer de que era uma agência
como é que as coisas funcionavam um processo todo portanto fui lá fui
colocar conteúdos num site foi minha primeira experiência com um site na
vida não fazia ideia que os sites funcionavam daquela maneira a internet
era uma coisa relativamente recente principalmente para quem estava
fora, fora dos grandes centros. Foi uma experiência interessante começar
pelo backoffice de um site portanto comecei exatamente pela parte menos
sexy disto da comunicação e a partir daí sim começaram então a surgir
outras oportunidades e outras possibilidades. Voltei à minha área de
formação para um projeto ligado à exploração mineira. Não estava a
correr muito bem e eu não estava também muito motivado voltei. E então
aí sim comecei a trabalhar em comunicação como costumo dizer a sério
ligado à gestão de projetos. Ou seja, na altura, vamos dizer era assim
um account _sobrevitaminado_ de que fazia uma série de coisas, dava
uma perninha em copy portanto foi tudo um bocadinho... Foi aqui um
misto aproveitar as oportunidades e um bocadinho de sorte pelo meio
também.
00:03:28
Bruno: Então só para percebermos aqui um bocadinho melhor. O teu
trabalho nessa altura, o dia a dia, como era? Chegavam os conteúdos e tu
tinhas simplesmente de publicar, tinhas tu que produzir alguma coisa...
00:03:40
Filipe: Eu basicamente limitava me agarrar em, ao início... Nos
primeiros casos alguns primeiros sites feitos em folhas de Excel e
agarrar naquilo e seguir uma ordem para que, eu não vou colocar aqui
marcas mas eram marcas de sanitários. Portanto aprendi imenso sobre
sanitas e bidés e os diferentes tipos que existem, existem muitos pelos
vistos; numa lógica de todo o conteúdo já estava mais ou menos
organizado
00:04:03
Filipe: e eu limitava me a colocar o conteúdo no backoffice. Qual foi
o fator diferenciador aqui? À medida que ia fazendo isso e fazendo uma
lista daquilo que não existia portanto já fazia um bocadinho dava aqui
grande parte do trabalho ao account que geria o projeto para saber que
conteúdos é que tinha que pedir. Como isto para mim era uma coisa muito
lógica mas poderia ser uma grande novidade naquele contexto. O que
começou a acontecer foi comecei a receber cada vez mais projetos, em
regime de freelancer, para fazer a gestão de sites e o que fazia muitas
vezes era não só limitavam a pôr os conteúdos como reescrever algumas
coisas que não chegavam a tempo ou que o cliente não enviava o que iam
para o cliente para aprovação e comecei então ai explorar um bocadinho
esta parte mais escondida do site. Esta parte para muitas pessoas menos
sexy, bugs, coisas que não estavam a funcionar, testar. Aquilo ainda era
numa altura em que nós não tínhamos "live" e portanto basicamente eu
tinha que gravar, fazer reload do site e ver o que é que estava a
acontecer e acabou porque começar a dar um bocadinho uma percepção um
bocadinho mais fidedigna daquilo que alimentava o site e como é que o
site como é que o site funcionava. Portanto aí é que eu comecei a
perceber o que era esta coisa do Backoffice se a ligação ao front office
como é que aquilo se comportava e começar a trabalhar o conteúdo para
aquilo que no mockup funcionava muito bem, tinha três linhas, e de
repente com o conteúdo do cliente são duas folhas A4. Como é que nós
escrevemos aquilo para fazer sentido. E nessa altura, dentro das
possibilidades comecei também a perceber a tentar perceber e aprender um
bocadinho mais sobre gestão de conteúdo criação de conteúdo web. E fiz
muitas outras coisas inclusive dar formação nos backoffice e escrever
manuais de formação da formação. Posso dizer que os clientes na maior
parte dos casos nunca nunca leram o manual. Apesar de estar ali a
informação, mas não liam o manual e admitiam. Depois quando comecei a
trabalhar como gestor de projeto de uma maneira simpática dizia a página
do manual que estava e muitos clientes assumiam e contavam sem nenhum
problema que não, que não liam porque sabiam que tinham ali alguém que
dentro daquilo que era possível ajudava-as a perceber o que estava
errado. Outra vantagem disto, este começar por esta àrea específico
muito na lógica de perceber que muitas das coisas que eram possíveis de
fazer e de formatar num site tinham que ser forçadas no backoffice
portanto foi também minha primeira experiência com o HTML e com a
possibilidade de começar a começar basicamente a martelar o texto e o
código para fazer aquilo que era que era suposto.E isso sim, era difícil
na altura essa parte era bem mais Tricky não não era tão fácil.
00:06:54
Bruno: E perguntando agora do lado do cliente que sensibilidade
notavas para os temas de produção de conteúdo?
00:07:02
Filipe: Os clientes não tinham a percepção. E alguns hoje em dia
continuam a não ter essa percepção de que um site é muito mais do que
parte do design que a parte da animação que é parte da interação, ou
seja o site tem que ser alimentado e o ser alimentado implica que
tenhamos obviamente conteúdo de texto, conteúdo de vídeo, conteúdo de
imagem que para o cliente principalmente para tipologias de empresas
mais pequenas é sempre complicado. A noção de criação de conteúdo é um
pouco difícil porque não existe treino não existe conhecimento existe
uma folha em branco na maior parte das vezes nós estamos a pedir às
pessoas para falarem de elas mesmas lojas e empresas para falarem delas
do que aquilo que elas fazem aquilo que elas nos devolvem na maior parte
das vezes são. São visões institucionais são visões de missão valores
que não vão bem ao encontro daquilo que as pessoas querem. Muitas vezes
quando vão parar um site principalmente de produtos mais técnicos.
Estou-me a lembrar de casos de moldes e coisas do gênero em que aquela
linguagem muitas vezes não era a linguagem do cliente final. Mesmo sendo
o cliente final o cliente está no negócio B2B mesmo sendo outro negócio
muitas vezes havia um tecnicismo muito grande na linguagem. Portanto há
todo aqui um re-trabalhar e toda uma sensibilidade. E então em termos de
conteúdo visual mais ainda porque depois aquilo que começava muitas
vezes a ser quase uma espécie de yearbook da empresa e não é isso que
nós não queremos. Portanto havia aqui e foi também muito boa este deste
primeiro trabalho. Ainda não me chamando dessa maneira com a noção de
estratégia de conteúdo e pensar no conteúdo e naquilo que nós podemos
oferecer num site que na altura era muito mais fácil.
00:08:44
Bruno: Podemos então dizer que faltava apontar o conteúdo mesmo para
um público e não apenas para o próprio umbigo.
00:08:51
Filipe: Sim sim de uma maneira
00:08:54
Filipe: mais mais honesta sim às vezes há esta falta de noção de que o
conteúdo vai ser consumido por alguém que tem uma expectativa que não é
a do diretor. Não é do marketing não é das vendas ou seja é alguém que
quer alguma informação sobre sobre um determinado negócio. é isto que
hoje em dia se calhar um bocadinho mais e está mais facilitado porque
temos mais exemplos temos mais histórico na altura era mais mais
complicado e eu trabalhava essencialmente PME e nas PME's as coisas
ainda continuam a acontecer muitas vezes o departamento de marketing é
uma pessoa que faz perninhas em vários outros departamentos. Aquela
pessoa não tem nem tempo nem nem nem disponibilidade para estar a pensar
na criação de conteúdo isso faz como os projetos arrastam se muitas
vezes durante meses desnecessariamente exatamente por estava tudo
pronto. Excepto a parte do conteúdo. Aí obviamente tínhamos outra coisa
que era a parte do budget. Se existia orçamento para criação de
conteúdos, o conteúdo aparecia se não existia era era um bocadinho mais
mais difícil e eu cheguei a ter casos em que já recolhia conteúdo em
barda e trabalhava já para poder pôr o site no ar era quase uma bola que
se fazia ali só para não termos um projeto de projetos que se calhar
estiveram parados durante nove meses desnecessariamente só porque
faltavam imagens ou faltava um texto. E isto tráz-nos aí a um aspecto
importante daquilo que é aquilo que é estratégia muito focada na parte
de conteúdo que tem que haver uma auditoria preliminar e perceber muito
bem principalmente em clientes mais tipologias mais pequenas, qual é a
capacidade de produção de conteúdo daquelas pessoas e depois adequar uma
solução que consiga consiga estar mais ou menos alinhada com aquilo e
isso nem sempre é fácil.
00:10:41
Bruno: Ou seja por um lado fazer uma auditoria ao conteúdo que já
existe por outro lado fazer auditoria àquilo que é de fato possível de
produzir.
00:10:47
Bruno: Exatamente qual é que é a capacidade de produção.
00:10:50
Filipe: E se tudo o resto falhar às vezes é mesmo mas também tive que
o fazer esse é uma experiência que eu acho fascinante é sentar me ao
lado do cliente e pedir lhe que me conte a história da empresa pedir lhe
que conte: Porquê. Porque é que eu devo comprar aquele produto ou
qualquer coisa e pedir aquele serviço. E é interessante tirar desta
entrevista mais informal. Muitas coisas que dão para criar conteúdo
00:11:14
Bruno: Devem saído daí algumas histórias interessantes.
00:11:17
Filipe: Saíram, saíram. Eu acho que uma das que gostei mais era uma
loja gourmet em Lisboa que tinha um cuidado muito grande com
comunicação. Se calhar até em termos de daquilo que investia em
comunicação muito mais do que empresas coisas muito mais institucionais
e deve ter sido os melhores projetos de criação de conteúdo foi. Foi
exatamente isto. Não pela dificuldade inicialmente sim porque tínhamos
pedido do conteúdo mas foi sentar me ao lado da dona e ela dizer me
exactamente porque é que tinha criado aquela loja porque o conceito
existia qual é que era a visão dela e a partir dali começar a trabalhar
aquele conteúdo. Ou seja beber diretamente na fonte e começar a
trabalhar o conteúdo e começar a pensar neste caso o site exatamente com
as peças de conteúdo que existiam para cada uma daquelas coisas. Também
não calhou mal obviamente podermos fazer sessões fotográficas com os
produtos dela que claramente trouxe ali trouxe ali uma qualidade
diferente ao site mas esta parte às vezes o que é que nós podemos fazer,
o que é que as outras pessoas podem fazer que pode falhar um bocadinho
neste processo e nessa altura falhava muito muito eu dizia muito. Hoje
eu te digo várias vezes na altura aquilo que hoje em dia o marketing
digital inclui uma parte muito ínfima na altura era muito fácil não é
porque nós vendíamos sites pondo isto desta maneira vendíamos sites para
quem tinha um bocadinho mais de orçamento ou para quem era um bocadinho
mais avançado lá fazíamos umas newsletters e até estou a ser simpático
porque grande parte das vezes eram as assinaturas de e-mail do que
propriamente newsletters e em casos muito específicos tínhamos SMS. Era
assim uma coisa mesmo de TOP TOP TOP. Portanto depois isto massificou-se
pois de repente começou a criar se um ecossistema muito mais complexo e
difícil difícil de acompanhar é difícil até de muitas vezes trabalhar
mas nessa altura era relativamente fácil. Nós dissemos para os clientes
você tem que ter um site e acho que na altura nem percebíamos bem
porquê. Desta vez as pessoas só sabiam que queriam ter um site só isso
00:13:17
Bruno: Porque era quase como uma joia da coroa.
00:13:20
Filipe: É. Estamos a falar de 2009 2010 alguns anos atrás não querendo
desvendar aqui se calhar muito essa parte dos anos e da idade mas na
altura era caro. Para começar tudo era caro ter um alojamento ir
registrar um domínio era caro. Portanto ter um site em si era caro não
tínhamos nem nem metade das soluções que temos hoje em dia nem metade da
agilidade que tínhamos hoje em dia os sites eram coisas muito novas.
Eram coisas que de repente a comunicação online era uma coisa muito
nova. Lembro me de uma cliente me perguntar por exemplo se deveria fazer
comunicação nas páginas amarelas nos anúncios das Páginas Amarelas e
isto versus um anúncio de imprensa. Ou seja o que era melhor. Minha
resposta só poderia ser tal como foi. É o que for melhor para o vosso
negócio se isto, se um anúncio digital vos trouxer maior visibilidade
então sim vamos avançar com o anúncio digital mas se calhar para o
público que estamos a falar com um público muito local se calhar o
anúncio no jornal regional durante x semanas acabou por ser mais mais
vantajoso portanto na altura eram jogos muito. Hoje em dia parece que é
tudo muito mais simples porque faz tudo parte de uma checklist que nós
temos mas na altura eram decisões que custavam muito mais do que estão
hoje em dia.
00:14:40
Bruno: Então estamos aqui a falar numa altura em que o meio de
comunicação principal eram os sites. Mas como é que foi então dar o
salto para outras áreas da comunicação digital qual é que foi a grande
oportunidade que surgiu e que tu agarraste?
00:14:56
Filipe: Eu não. Nós começamos a trabalhar com _social media_ por
exemplo de uma maneira muito rudimentar. Não vou dizer agora aqui que as
marcas mas muito rudimentar mesmo. Na altura eu já já trabalhava
exclusivamente como gestor do projeto. Portanto nem sequer existia a
figura do social media manager, eu nem sequer sabia muito bem que isso
existia redes sociais temos o Facebook para quem era mais aventureiro
tinha me tinha o Twitter mas era assim uma coisa muito longínqua e
portanto o Facebook era era a única coisa que nós não estávamos ali
alguma alguma atenção. Sabíamos que as grandes marcas tanto
internacionais como nacionais estavam no Facebook portanto assim que
havia essa possibilidade havia algum produto novo na vida havia algum
serviço oferecido.
00:15:38
Filipe: Honestamente ninguém sabia o que se fazia que aquilo era uma
coisa gira todos nós do Facebook e portanto todos nós escrevemos umas
umas baboseiras no Facebook. Portanto era mais do que normal começarmos
a transpor isso para as marcas portanto todas as noções que existe hoje
em dia do trabalho e essas são uma ideia não existiu e na altura ainda
nem foi o número uma coisa que me interessava muito e nem sequer fazia
bem ideia que iria continuar no digital ou que iria perseguir quase
quase uma especialização apenas em digital. Mas a verdade é que tínhamos
ali estas estas e estas novidades e o que é que se poderia eventualmente
eventualmente fazer com aquilo. E lembro me de um caso muito particular
caso de negativo obviamente não é um prenúncio de crise e mesmo sem ter
nenhum tipo de formação.
00:16:27
Filipe: Passo lógico que ali era não deve nada não é porque claramente
ali era um ataque uma marca muito justificado porque falava muito
questão de qualidade de produto. Portanto por muito que a marca quisesse
ter uma postura relativamente àquilo não tinha argumentos portanto eu
honestamente não sabia muito bem se era postura correta ou não. Mas
alguma coisa tinha que ser feita o cliente estava em pânico. A colega
altura geria as redes sociais que era aquilo que estava em pânico.
Portanto o melhor foi não vamos fazer nada durante uma semana. Logo
vemos o que é que vai acontecer e acho que isso foi um bocadinho um
prenúncio do que é muitas vezes uma crise nas redes sociais que hoje em
dia acaba por ser mais fácil porque a crise de hoje amanhã já não é nada
porque já há uma crise muito mais grave que é ótimo só temos que esperar
que ela chegue. Mas na altura eram coisas que as pessoas acabam ficavam
um bocadinho um bocadinho pânico e eu na altura não não tinha
propriamente esta visão por onde é que iria seguir que gostava de fazer
que estava da parte de gestão de projeto gostava da parte de trabalhar
em comunicação.
00:17:27
Filipe: Comecei a trabalhar um bocadinho até não só na gestão de
conteúdo mas também ao redor ali de vez em quando a fazer uns biscates
internos na parte da paginação que era uma coisa que já fazia na
faculdade alguns trabalhos de e portanto claramente sem sem sem grande
grande formação formal e a pouca que ia encontrando (Obrigado Internet)
e as coisas foram prosseguindo eu durante algum tempo fui sempre fui
sempre estando muito focado na parte de gestão de projeto. Não não estou
não contato propriamente dito mas mais estão gestão de projeto nas
grandes empresas nas grandes agências chama se "tráfego". Eu tinha um
título um bocadinho mais longo porque parecia que era uma coisa
importante mas não era basicamente organizar tarefas e certificar de que
as coisas saíam a tempo. Eu tinha no entanto uma certeza dessa altura
que era não queria continuar a trabalhar em produção gráfica produção
gráfica tenho coisas muito interessantes mas é uma componente do
trabalho que traz aqui uma carga de estresse muito grande e andamos
sempre literalmente com o coração nas mãos.
00:18:32
Filipe: Porque somos nós que nos atrasamos a gráfica que se entrega
são as entregas que não chegam a tempo e corpo não é aquilo que era
suposto e o cliente nunca paga uma prova e o azul vai completamente ao
lado. Portanto era um tipo de produção que estava na altura estava me a
cansar. Eu gostava de fazer os projetos estou até a entrega da arte
final ou a entrega do produto final mas esta parte da acompanhamento de
produção era algo que me tirava horas desnecessárias e passava grande
parte do meu dia no corredor de telefone de um lado para o outro...
estava a ser eu estava a consumir-me ali ali um bocadinho. Depois tive
mais um acidente de percurso porque reestruturações acontecem não é
verdade. Portanto é uma série de colegas acabamos por ter ido para a
triste situação de desemprego e fui um bocadinho mais de tempo para
refletir naquilo que queria fazer e na altura _social media_ era uma
coisa que estava a começar a aparecer. Comecei a investigar comecei a
pensar isto até é interessante.
00:19:27
Filipe: É giro, coisa engraçada mais uma vez.
00:19:30
Filipe: Todos nós temos páginas de Facebook e comecei a pensar muito
na a usar o meu perfil do Facebook para fazer alguns testes em termos de
o que é que as pessoas realmente querem saber de nós o que faz as
pessoas mexer. Será que as pessoas que me seguem os meus amigos, se eu
puser uma foto de comida e uma foto minha. Qual é a reação deles e
começar a investigar aprender e tentar perceber um bocadinho mais o que
quer isto do _social media_ e tive ali assim uma fase um bocadinho
indefinida em relação àquilo que queria ou não queria fazer porque na
situação em que eu tenho um _skill set_ mas não tenho outras outras
ferramentas de repente já se começava a falar das coisas relacionadas
com o marketing digital com redes sociais, _boom_ das redes sociais,
grande crescimento e os astros alinharam se e fui parar à Fullsix.
00:20:27
Bruno: Sim nós acabamos por nos conhecer na Fullsix em 2013.
00:20:30
Filipe: 2013 vamos situando, o resto para trás é que não.
00:20:34
Bruno: E na altura já era uma agência com muito renome no mercado
justamente no que diz respeito a _social media_.
00:20:41
Bruno: E tu foste logo para uma das maiores marcas do portfólio a
Super Bock. Como é que foi essa experiência?
00:20:49
Filipe: Eu até até há relativamente pouco tempo fiquei em dúvida como
é que tinha ido parar à fullsix. Confesso. Foi uma daquelas coisas e a
história ainda não está muito clara ainda, e acho que eu acho que vai
ficar sempre assim um bocado um bocado um bocado difusa que não faz mal.
Traz aqui alguma mística. Alguma mística a essa parte do percurso.
00:21:10
Filipe: Eu posso dizer que o primeiro mês que estive a trabalhar na
Fullsix, chegava a casa todos os concessão que era uma fraude. De
repente cheguei a uma equipa de _social media_ uma coisa que ainda se
formos a ver até hoje em dia com a estrutura que tínhamos e com o número
de pessoas que estavam a trabalhar. _Social media_ com um nível de
qualidade que se estava a trabalhar _social media_ se calhar já não é
tão comum.
00:21:32
Filipe: Até porque obviamente os tempos mudaram. Há um investimento
até menor em termos de produção de conteúdo para _social media_
portanto naquela altura em particular eu chegava todos os dias a casa e
sentia-me uma fraude mas uma fraude tremenda.
00:21:49
Filipe: Porque é que eu estou aqui? Estou a trabalhar com pessoas que
claramente sabem mais do que eu. Estou a trabalhar uma marca gigante que
tem uma herança brutal. De repente há ali toda uma herança todo um
conjunto de valores e de linguagem que têm que ser apreendidas. Num
tempo relativamente rápido porque teria que começar e começar a pôr as
mãos na massa relativamente de uma maneira relativamente rápida. E senti
me um bocadinho aquele New Kid On The Block mas de uma forma muito: ok
eu venho aqui do nada não é ? Uma experiência muito rudimentar como com
alguma experiência há experiências nesse sentido experiências de coisas
_social media_ e analítica mas nunca houve uma coisa tão estruturada
tanto eu pensar o que "é agora, todo aquele conhecimento que tu foste
angariando toda aquela toda aquele _know how_ tem que começar a ser a
ser colocado em prática.
00:22:44
Filipe: E uma das coisas que eu achei fascinante nesta experiência e
principalmente na altura era que ter percebido que a linguagem da Super
Bock estava muito alinhada com a minha própria linguagem em termos de
escrita portanto aquele tom mais mais _edgy_, tom mais ácido mais
sarcástico, aquel _borderline_ ofensivo em determinadas coisas estava
muito alinhado e foi. Foi a partir do momento em que aceitei que esta
voz da marca na altura seria a minha voz e que essa voz estava alinhada
com aquilo que é que a marca tinha feito até à altura que era um
bocadinho mais mais de segurança.
00:23:21
Filipe: Mas passei os primeiros tempos foram me foram difíceis e até
tentei por vários níveis a lidar com uma empresa uma conta muito maior
do que aquelas com que tinha lidado até à altura. A todos os níveis seja
a nível de orçamento aquilo que era o orçamento da Super Bock _versus_
orçamentos que eu estava habituado a gerir noutras noutras ocasiões. A
própria postura da marca, o número de coisas que fazia, a exigência e
aquilo e as expetativas que efetivamente tinham das redes sociais. Estar
dividida em vários canais e de repente como é que eu vou conseguir fazer
e criar conteúdo para isto tudo.
00:23:59
Filipe: Portanto foram os primeiros meses foram foram foram difíceis.
Depois houve ali um momento em que eu pensei Ok tenho que arranjar um
processo. Aí veio veio a herança da gestão do projecto eu tenho de
arranjar um processo para conseguir lidar com isto porque eu vou ter que
continuar a fazer isto. Portanto para todos os efeitos tem que
conseguir. Perceber como é que eu consigo fazer isso. Lembro-me
perfeitamente chego em casa durante um fim de semana despachei
calendários editoriais como se não houvesse amanhã portanto ideias, as
coisas soltas que tinha. Organizei tudo e comecei um processo muito mais
rotineiro em termos de criação de conteúdo para conseguir dar coisa
agora que o contexto sabe. Mas quis dizer alguém que não sabe que eram e
que a Super Bock na altura estava dispersa em sete ou oito presenças.
00:24:49
Filipe: Eu não estou em erro, não só Super Bock Portugal como a Super
Bock em diferentes páginas globais. Isto fazia com que a produção de
conteúdo não fosse apenas para uma página. E nós somos da geração em que
ainda se comunicava muito em redes sociais. Aliás as minhas primeiras
experiências em redes sociais como freelancer era publicado todos os
dias duas vezes por dia portanto era uma produção de conteúdo muito
intensivo. Isto fazia com que obviamente nós chegássemos a um ponto em
que já não tínhamos muitas ideias.
00:25:20
Filipe: Parece que já tínhamos dito tudo o que havia para dizer
portanto e isto ajudou acima de tudo a trabalhar muito mais a lógica de
criação de conteúdo uma maneira muito mais estruturada muito mais
sustentável também. E tirar um bocadinho esta carga de estresse
desnecessário. Além disto havia todo o resto do trabalho para fazer não
havia necessidade de olhar para as coisas havia a necessidade de foco o
cliente havia a necessidade de gerir uma série de processos fora da
criação de conteúdo.
00:25:48
Filipe: Mas foi uma experiência uma escola que não não... Olho para
trás e pude perceber exatamente isso ou seja o foi que foi humano. Foi o
que foi um passo muito necessário para perceber o que queremos e neste
caso em particular o que é que eram as redes sociais e a partir de um
determinado momento perceber que o gestor de redes sociais como existia
na altura rapidamente se iria extinguir e ficar um cargo demasiado
especializado demasiado focado e sendo uma pessoa que está na linha da
frente a todos os níveis a nível interno e nível externo. O gestor de
redes sociais reforçou a ideia mas não pode ser se calhar só aquela
figura preocupada com as redes sociais mas tem que ser mais preocupado
com o resto. Com o site, com o e-mail, com as vendas, com o Serviço de
Apoio ao Cliente que às vezes não só faz disparates. Portanto muito
nesta lógica de Ok se calhar ter uma visão muito mais holística muito
mais holística do que aquela que se calhar nos era exigida na altura.
00:26:50
Filipe: E foi assim que comecei com este com esta visão holística
holística até de ter uma primeira percepção de que eu queria fazer um
trabalho de estratégia.
00:26:58
Bruno: Deixa-me só dar aqui dois passos atrás e recordar aquela
sensação de eu sou uma fraude que vou dizer já não, não eras.
00:27:09
Filipe: Mas era assim todos os dias. Só não ia chorar para casa porque
não cheguei a esse ponto mas podia ter acontecido lembro algum trabalho
ver que eu era aquela coisa que autocarro e ficava foi uma era uma
sensação de ansiedade muito constante. Até ponto até perceber onde estou
aqui tem que fazer o trabalho da melhor maneira possível e é perguntar
inclusive quem me contratou e de que estou aqui porque claramente existe
uma equipa com pessoas muito mais capazes porque eu e isso manteve-se.
00:27:43
Bruno: Referes-te ao Armando Alves. Lembraste do que é que ele te
respondeu?
00:27:48
Filipe: Ele respondeu me não lembro ipsis verbis o que é que ele
respondeu Mas basicamente foi qualquer coisa como eu vi potencial em TI
e achei que era capaz de responder esse desafio. Que não me deixou mais
descansado. Decisão que passou não me deixou mais descansado. E lembra
me explicar que alguns destes pormenores parte da criação de conteúdo a
parte de gestão e uma série de coisas que só se constrói que se trabalho
ou pessoas que vão ser melhores na gestão de comunidade ou melhores na
gestão de conteúdo.
00:28:17
Filipe: Mas acima de tudo para trazer este caráter um bocadinho mais
completo. Acho que nós temos tínhamos que ter todos ali um perfil muito
específico até porque fazíamos várias coisas ao mesmo tempo e estávamos
em várias frentes ao mesmo tempo. Portanto não descansou muito. Eu acho
que só o tempo e os desafios que foram sendo fui encontrando e fui
ultrapassando sozinho com a equipa. A equipa essas de _social media_,
com equipe dedicada a Unicer. Acho que estes desafios ajudaram-me a
ganhar um bocadinho mais essa confiança isto de haver uma altura em que
se sentia mesmo que sentia a marca como sendo minha. Portanto sentia
aquele pelouro como sendo meu. Portanto acho que já tinha ultrapassado
estas inseguranças todas esses anos já pensava ok. E esta é a minha
visão e esta é a defesa que eu faço desta marca nas redes sociais. Era
muito territorial. Era, era muito territorial mas tinha que ser acho que
era necessário, para isso talvez era necessário.
00:29:17
Bruno: Lembro me de várias vezes ouvir o Armando dizer: É muito
díficil contratar pessoas nesta área porque os melhores são ocupados a
trabalhar e notava-se. Também se notava que o Armando tinha um cuidado
muito minucioso na escolha das pessoas. Notava se que ele investigava
antes de fazer o convite e compreendia primeiro pessoa antes de avançar
em que passo fosse.
00:29:45
Bruno: E por isso é normal que tenha chegado ali estava perante uma
equipa que já vinha de alguns anos atrás e que tinha sido escolhida
literalmente a dedo.
00:29:55
Bruno: Não sei se era essa a sensação ou não.
00:29:58
Filipe: Era, Era. Tinha muita coisa de que eu digo de tudo todas as
pessoas ali as pessoas vocês falavam comigo e passavam me coisas da
marca e de repente pensar de mim que eu vou conseguir saber saber muitas
áreas disso também tenho muitas. Está aqui coisas muito internas
obviamente e muito esta esta necessidade. Da minha parte. Ok tou aqui.
De repente ponho a primeira a segunda terceira e já vou disparado e
quero me ver a fazer isto o mais rápido possível. Foi uma coisa que
aprendi a refrear mas que naquela altura naquele contexto tendo a noção
da oportunidade que era parecia me mesmo de ok tem que de alguma maneira
dar a volta a isto. E era foram os primeiros os primeiros sempre não em
termos de equipa ou da empresa foi mesmo a condição de ter o contexto
todo de como é que eu vou conseguir chegar a este polvo que está aqui
não sei quantos países com não sei quantos produtos com não sei quantas
coisas consegui perceber o suficiente desta marca e para quem não tem. é
uma coisa só desviando um bocadinho uma coisa que hoje em dia me
entristece um pouco.
00:31:04
Filipe: Eu acho que se perdeu um bocadinho no que diz respeito às
redes sociais acho que se perdeu aqui um bocadinho algum algo não quer
dizer brio para não ser injusto mas parece me que se perdeu aqui algum
_ownership_ das redes sociais e nós sim que tínhamos muito mais éramos
muito mais territoriais com as nossas marcas e tínhamos muito mais a
percepção de que grande parte do nosso sangue e suor estava ali e
queríamos obviamente que aquela marca que o resultado fosse sempre
melhor e que a comunidade termos comunidades ativas termos comunidades
muito mais envolvidas havia um esforço muito maior.
00:31:45
Filipe: Também é preciso dizer e contextualizar que em 2013 era muito
mais fácil fazer isto
00:31:51
Bruno: Era mais fácil? Será que era ou será que estávamos todos a
aprender?
00:31:55
Filipe: Era, eu acho que era mais fácil. Obviamente as plataformas
mudaram as coisas mudaram e o que foi acontecendo é que começou-se a dar
tanto valor à parte do conteúdo que começou a dar valor à parte da
comunicação propriamente dita que fomos perdendo um bocadinho este, esta
liberdade de explorar que tínhamos de como é que podemos responder.
00:32:18
Filipe: Como é que podemos fazer as que ainda não existiam tantos
processos e tantas situações de coisas que correram mal porque o bom
senso não impera. Muitas vezes portanto e acho que felizmente que me
recordo acho que nenhum de nós perdeu o bom senso e nunca nunca criou um
fogo numa altura desnecessária. Mas lembro me ter algum feedback das
equipas internas do cliente de às vezes sentirem um bocadinho receosos
com a maneira como a marca respondia. E muito mais consoante a maneira
como estavam e penso que isso deve ser mais ou menos comum a todos os
clientes ou seja dependendo da posição em que a pessoa está vai achando
mais piada ou menos piada mas quanto maior a responsabilidade mais se
pensa naquilo.
00:33:03
Filipe: E acho que se começou a racionalizar demais muitas vezes a
interação nas redes sociais e penso que isso se perdeu um bocadinho mas
que havia um trabalho se calhar... havia alguma facilidade porque era
tudo muito novo.
00:33:17
Bruno: Sentes que a comunicação se tornou mais plástica?
00:33:22
Filipe: Não quero dizer plástica acho que se tornou... Perdeu-se a
espontaneidade. Acho que se perdeu um bocadinho de espontaneidade na
parte como comunicamos hoje em dia no _social media_ não estamos
sempre tão preocupados com a crise com a potencial crise como que cada
pessoa vai dizer e acima de tudo com a facilidade que hoje em dia alguém
tem de fazer um _screenshot_ para criar e de repente tudo aquilo se
torna torna se viral que os clientes não querem. Que acaba por ser quase
castrador ter medo de se calhar uma necessidade muito grande de
aprovação de comentário ou não se aproveitar que eu acho que é o que
acontece muitas vezes não se aproveitar as oportunidades de conversação
e trazer ali pessoas que por algum motivo perderam dois minutos da vida
delas às vezes nem tanto a interagir com uma marca e de repente
aproveitar isso e catapultar e criar ali um bocadinho essa relação.
00:34:14
Filipe: Essa relação que não sei honestamente se continua a investir
tanto nela quanto isso. Estamos estamos todos continuamos muito mais
focados nos problemas logísticos das redes sociais, na questão do
alcance na questão da necessidade do investimento de mídia que se perde
um bocadinho esta alma esta esta coisa muito purista que nós tínhamos no
fundo que nós cabe a nós também. E a verdade é esta, nós publicavamos
que nos desunhávamos e criava se conteúdo de uma maneira assim até um
bocadinho excessiva e não tínhamos um algoritmo que nos que nos tivemos
e lidámos com ele obviamente.
00:34:54
Filipe: Mas sei que hoje em dia existe alguma dificuldade e é isso que
me entristece um pouco neste neste tema em particular. Eu acho que as
poucas oportunidades que surgem as poucas oportunidades espontâneas que
surgem de conversação não estão a ser aproveitadas.
00:35:07
Bruno: De fato havia ali muitas oportunidades de ser espontâneo e de
propor coisas diferentes aos clientes. Lembro me de ver uma colega nossa
a Diana a tirar fotografias a produto com ajuda de outro colega debaixo
do vaso debaixo de umas plantas porque iria funcionar. E de fato
funcionou.
00:35:24
Filipe: Funcionou. E a verdade é que hoje em dia para quem se calhar
não tem essa percepção nós não tínhamos nada dos apetrechos que se vê
muitas vezes hoje nas agências para tirar fotografias, para _social_
etc. é todo um processo de produção que já não existe. Já não tenho
visto com tanta frequência primeiro porque os calendários são mais mais
contidos obviamente.
00:35:46
Filipe: E sinto às vezes falta um bocadinho de espontaneidade. E o
problema da espontaneidade e que depois está ali às vezes numa roda viva
de aprovação o que torna difícil. Nem sempre há tensão obviamente que
aqui estou a generalizar. Eu acho que neste tema em particular acho que
se criou essa necessidade em ter como plataforma e como canal de
comunicação mas continua a haver muito receio e cada vez mais maior
receio sobre o que pode acontecer sobre aquilo que pode ser dito. E a
verdade é que nós estamos numa fase de politicamente correto complicada.
00:36:24
Filipe: Em que tudo e tudo é motivo para atacar uma pessoa uma marca
que quer que seja seja qual como já nada passa incólume. Já tudo vai
para todo lado e acho que estamos todos às vezes até perder um bocadinho
algum sentido de humor e alguma leveza na maneira como analisamos o
conteúdo que estamos a receber.
00:36:43
Filipe: E eu acredito mesmo que grande parte das coisas que fazia com
Super Bock em 2013 se se calhar se fosse hoje em dia passaria metade do
meu tempo a gerir crises. Claramente havia ali muita coisa
_borderline_ muita coisa que iria ofender a sensibilidade de alguém.
Nalgum ponto no mundo de certeza absoluta que alguém iria ficar ofendido
com aquilo. Portanto ainda bem que foi nessa altura. Não não não foi que
foi um tempo que a aprendizagem foi ótima.
00:37:14
Filipe: Não é daquelas coisas que se fez fez conhecimentos em para a
vida portanto sempre uma coisa é uma coisa boa é a aprendizagem. Há
coisas ali essa essa estrutura toda e até a maneira como como tive o meu
primeiro contacto com o criar uma estratégia de redes sociais e também
ensinamentos do Armando dizer "isso não é uma estratégia é uma
tática." E se esse foi um grande ensinamento para o futuro e para
aquilo que faço atualmente que é um bocadinho começar a perceber neste
planejamento deste plano um bocadinho a longo prazo o que é que é
suposto fazer.
00:37:53
Filipe: E é quase que um exercício de futurologia daquilo que podemos
eventualmente fazer é ter uma intenção relativamente àquilo para onde
queremos chegar e foi. Foi um trabalho e foi um exercício que obviamente
me trouxe muitas vantagens e muitos frutos daquilo que faço hoje em dia
porque ensinou acima de tudo a fazer esta esta diferenciação. Às vezes é
muito tênue é verdade. Se é estratégia se é tática já a gente já fica
ali um bocadinho, um misto um bocadinho estranho a própria definição não
ajuda. Muitas vezes as pessoas a perceber que está a acontecer ali mas
acima de tudo é esta noção de visão. Qual é a nossa visão daqui um ano
daqui a dois anos. O que quer que seja. E depois como é que vamos chegar
lá e não começar pelo como é que vamos chegar.
00:38:39
Filipe: Sem pensar na parte que está que está para trás também foi.
Foi obviamente uma escola uma escola muito importante e foi uma escola
muito interessante que me trouxe aqui uma série de valências que
felizmente posso as pôr em prática várias vezes, por dia não, não estou
a fazer isso todos os dias.
00:38:58
Bruno: Mas durante o ano com muita frequência.
00:39:02
Bruno: Mas falando agora do que fazes no dia a dia. De há uns tempos
para cá tens estado focado 100% em estratégia. Primeiro na Wundermann e
agora na Publicis. Não sentes falta de estar no terreno?
00:39:18
Filipe: Xis. Sim e não, é um nim. Eu nunca deixei. Eu deixo de estar
no terreno. Não na parte da criação pura e dura. Mas eu nunca deixei de
estar no terreno e aí muitas vezes vamos a própria definição do que é um
estratega um _planner_, planejadores estratégicos, o que queiram
chamar.
00:39:40
Filipe: Eu continuo a gostar de estar no terreno continuo a gostar de
perceber dentro daquilo que posso. O que se pode fazer, dentro daquilo
que é suposto fazer-mos: gosto de ir acompanhando. Tive que aprender a
delegar grande parte deste prazer. Ou seja se afastou do chefe o resto
alguém vai ter vai ter que fazer. Portanto habituei me esse processo.
00:40:03
Filipe: Fui me habituando mas continuo a gostar de estar envolvido em
algumas das fases e gosto de ver as coisas a crescer. Aí deixo para quem
de direito fazer a gestão da produção e da criação. Mas só de vez em
quando mandar um bitaite ou outro não me coíbo. Não fui portanto não.
Não entro muito na lógica de quem criar um plano estratégico está criado
agora vou a minha vida e tenho que continuar. E as duas experiências em
moldes diferentes. Uma mais focada em digital de uma maneira um
bocadinho mais transversal mas só agora numa lógica mais focada em
digital e _data_ portanto aqui como alguma, com algum afunilamento.
Mas as duas ajudam a fazer esta relata ter a visão do todo e a partir do
todo deixar pessoas fazer suas coisas lá está.
00:40:51
Filipe: Quando quando trabalhava mais componentes de redes sociais se
calhar às vezes havia coisas que eu não faria daquela forma mas alguém
que estava a fazer aquilo. Portanto aí é um bocado algum coaching algum
acompanhamento alguma noção de que podemos fazer desta e desta forma. E
acima de tudo que eu tenho tentado levar nos últimos anos às vezes é
perceber que não é fácil descodificar não é fácil ler um plano
estratégico.
00:41:23
Filipe: Essa percepção começa a ter quando nós percebemos que as
pessoas por muito que acham que aquilo é espetacular não sabem como é
que vão pôr em prática. Portanto é daí aquela aquela que é aquela linha
muito tênue entre a estratégia e a tática porque muitas vezes nós temos
que dar o passo seguinte. Pode não ser na definição do próprio plano
estratégico mas nalgum _coaching_ que se tem que fazer com as equipas
para se perceber como é que ele se coloca coloca em prática e eu tive
esta percepção quando estava no local de receber o plano estratégico
feito por alguém.
00:41:53
Filipe: Como é que se vai colocar aquilo aquilo em prática portanto
não estou não estou tanto no terreno. Não estou tanto no terreno,
canalizo a minha atividade criativa para outras coisas para desenho
pintura e outras coisas que fui fazendo não tanto escrita. A escrita a
escrita fica um bocadinho esquecida porque escrevo tanto durante o dia,
a verdade é essa.
00:42:17
Filipe: Não tenho noção mas até me admiro como ainda tenho palavras
para escrever e para dizer durante durante um dia mas fui canalizando
para para outras áreas outras coisas e aqui focando muito mais qual o
exercício também de criatividade porque a estratégia precisa de muita
criatividade metida ao barulho principalmente na (...) de dizermos como
é que nós vamos conseguir que isto aconteça sabendo que não temos os
recursos ideais.
00:42:41
Filipe: Portanto tem que haver aqui um grande um grande jogo de
cintura mas... canalizando por outras coisas o terreno vou lá mas
enquanto não vou não me esqueci das minhas origens humildes mas gosto
que gosto e acima de tudo gosto de perceber até em termos de processo.
Principalmente quando tenho processos novos como é que as coisas
funcionam para perceber até onde é que posso esticar tanto que podemos
ir com aquilo que às vezes não lá está estamos aqui num nível muito
macro muito muito estratégico muito _overview_.
00:43:13
Filipe: Queremos que sejam feitas uma série de coisas. Mas há muitos
processos que inibem ou seja antes de chegarmos àquele ideal se calhar
temos de tratar aqueles processos primeiro. Portanto aqui é um jogo de
cintura pois lá esta há três em três meses ou seja em seis meses vamos
avaliando vamos vendo vamos passando mais _guidelines_ portanto o
código diz que palavras não faltam.
00:43:32
Bruno: Então o teu dia a dia não é passado nas folhas de excel.
00:43:36
Filipe: Não é totalmente. Hoje em dia é muito dividido entre folhas de
Excel, powerpoints e pesquisa. Não o dia a dia sempre difícil de
explicar eu acho que há dias em que passo mais tempo focado na parte de
_analytics_ obviamente há tempo que passe na mais focado na parte
visualização e de apresentação e há outro tempo que passo mesmo a
recolher ideias. Portanto o Excel só faz muita parte do meu dia a dia
vários a vários níveis. A parte _analytics_ também.
00:44:10
Filipe: Portanto um bocadinho num misto entre outras duas coisas do
meu dia é sempre muito difícil. Eu sei que tenho coisas para fazer. Sei
sempre aquela história de tentar explicar a minha e o que é que eu faço.
É muito difícil muito difícil. Portanto eu acho que ela já está naquela
fase que sabe que eu tenho um emprego e já fica contente já fica feliz
com isso e não quer saber mais o que que eu faço nem quer sequer
perceber. Mas o dia a dia é sempre diferente dependendo de hoje em dia
mais ainda porque estou mais focado no cliente único não todo. Não tenho
vários projetos clientes diferentes portanto acabo por ser mais focado
em projetos diferentes projetos e diferentes pontos desses projetos.
00:44:47
Filipe: Como faço muito mais com a minha base agora é muito mais a
parte _Data_ a parte de site a parte técnica parte de que é que
podemos fazer de diferente dentro daquilo que estamos a fazer hoje em
dia. Portanto vai ser modelo misto entre analytics, Excel, pesquisa o
que é que a concorrência também anda a fazer e que podemos tirar e acima
de tudo tentar arranjar um bocadinho de espaço às vezes para refletir e
há coisas que vão ficando. Aliás eu acho que passo mais tempo hoje em
dia no _browser_ do que propriamente no Excel portanto os meus
_browsers_ normalmente são vergonhosos e que tipo 50 _tabs_ abertas
com coisas que eu sei que vão ser úteis.
00:45:22
Filipe: E aqui há alguma diferença um bocadinho grande aquilo que
fazia anteriormente porque tenho até menos contacto ou um contato menos
direto ou menos presencial quase com as equipas criativas ou seja só são
níveis ligeiramente diferentes mas ainda continuam a existir esta coisa.
De repente para lá qualquer coisa estava uma grande ideia para alguma
coisa.
00:45:42
Filipe: Portanto é um processo muito sinuoso. Eu usava um diagrama.
Não é fácil de perceber para quem está a ouvir. Mas a acho que reflete
em qualquer estratégia que não temos muita noção de processos. É um
processo que passamos a ter o próprio processo científico que também não
é assim. Não é assim tão linear mas nós sabemos que temos uma série de
passinhos até chegar ao resultado final porque partimos de uma hipótese
até até encontrarmos uma solução. A estratégia de há uns anos atrás, um
diagrama que representa bem isto que muitos pontos em vez de termos
aquele que tracejado, não é linear.
00:46:14
Filipe: Nós temos basicamente curvas sinuosas porque andamos um
pouquinho para trás e para a frente até arranjamos soluções mais ou
menos ideais. E às vezes não são as melhores ou piores. às vezes dá para
implementar outras vezes não nem tanto mas acima de tudo e um dia a dia.
Mas eu tenho uma listinha de tarefas sou organizado como sabes e tenho
tenho que ter essa estruturação toda. Mas acima de tudo eu hoje passo e
passo muito tempo com mais foco e acompanhamento de campanhas. Portanto
um bocadinho todos os dias ao uma vista de olhos no que as coisas estão
no que é que está a acontecer em procura de soluções de otimização de
jornada. Acima de tudo.
00:46:53
Filipe: Ou seja não tanto um foco mais de design ou de interação mas
muito pequenos pontos como é que nós conseguimos otimizar pequenos
pontos em termos de jornada. Portanto muito passo muito tempo dentro de
sites passe muito tempo de analytics e por muito tempo a processar esta
informação.
00:47:12
Filipe: Também tem aqui uma componente que é importante e essa também
consome algum tempo algum componente _Reporting_. Portanto essa aí sim
o Excel continua a ser o meu melhor amigo não como era há uns anos atrás
pois continua sendo o melhor amigo
00:47:24
Bruno: E quando está de definir uma estratégia ou a tentar construir
uma estratégia estás completamente bloqueado. Qual é a tua forma de
desbloquear?
00:47:33
Filipe: Eu vou andar. A única coisa que funciona comigo seja posso ir
ver outras coisas.
00:47:42
Filipe: Aliás há duas coisas normalmente você caminhar eu para mim é o
remédio santo. Eu quando estou muito bloqueado e acontece porque de
repente a criação de uma estratégia acima de tudo é simplificação de
ideias complexas e nós vamos apresentá la para um público que tem graus
diferentes de entendimento e tem objetivos diferentes. Portanto tentar
arranjar uma linguagem que seja comum aquelas pessoas todas que nunca
vai ser mas uma linguagem que seja comum e pouco crítica é a parte
muitas vezes mais mais difícil.
00:48:12
Filipe: E muitas vezes é como é que nós apresentamos essas ideias
complexas como um diagrama com um fluxograma o que quer que seja que
ajuda a perceber que isto são pequeninos espaços que têm que ser dados e
que vamos ter daqui diferentes coisas.
00:48:26
Filipe: Portanto nós usamos o termo _Framework_ não é verdade?
Porque somos pomposos e gostamos de usar termos nossos. Mas a verdade é
isso, a _framework_ ajuda-nos a perceber de uma maneira simples todos
os pontos que estão dentro de um determinado projeto. E uma campanha por
exemplo parece uma coisa relativamente simples divide se por muitos
projetos por muitos pequenos projetos que é preciso orientar e que é
preciso articular.
00:48:50
Filipe: No caso principalmente quando estamos preocupados com _Data
Strategy_. Esses pontos têm que ser medidos. Portanto nós temos que
perceber que informação é que vamos conseguir ter ou não e às vezes só
tendo a visão do todo e conseguimos chegar lá. Muitas vezes o ponto é:
nós temos a informação. Isto acontece comigo, eu tenho informação toda,
e entro no modo de me informar não ver logo ou seja estou completamente
atolado de informação pois há uma lista de tarefas de uma série de
coisas que é preciso fazer para todos os efeitos é preciso desbloquear
aquilo e quando eu não estou conseguindo bloquear a primeira coisa que
vou fazer é arrumar o meu computador.
00:49:23
Filipe: Vou organizar um e-mail por tudo em pastinhas. Aqui claramente
um OCD associado mas pronto e reconhecido. Vou arrumar a minha pastinha
vou pôr as coisas.
00:49:35
Bruno: Como quem está por ordem no mundo
00:49:36
Filipe: Exatamente vou ordenar o meu mundo e se isso não funcionar
porque aí já é o grau do bloqueio e se isso não funcionar então é andar
um bocadinho muitas vezes o que tem acontecido e o que é bom. Vou me
dedicar a tarefas ou o tipo de tarefas me indicar tarefas do dia a dia
ficam esquecidas no trabalho de um trabalho de um estratega acontece
muitas vezes fica aquelas coisas simples do dia a dia como responder a
emails ficam esquecidas porque não na nossa cabeça que não é
prioritário. A prioridade não está claramente naquela resposta que pode
ser respondida no dia a seguir e o mundo não vai não vai acabar mas se
nós não tivemos a apresentação pronta no dia em que é suposto apresentar
vai haver problema vai ser muito chato. Então esse é o primeiro e o
segundo grau.
00:50:20
Filipe: O caminhar normalmente ajuda ajuda a desbloquear ideias
oxigenar aqui um bocadinho o cérebro.
00:50:25
Filipe: O ponto mais mais crítico se não tiver nada nada ajudará a
limpar a casa. Claramente mais um pouco de organização mas claramente é
aquele ponto em que a ideia surge e nos últimos anos tem acontecido ao
que parece um bocado um clichê mas surge com muita frequência aquela
coisa de sempre quando se está a lavar a loiça quando se toma banho ou
quando se fala de repente é que qualquer "é isto". aí há duas coisas a
fazer. Eu normalmente vou anotar em algum lado. Na primeira coisa que
veja. Em um post-it o que quer que seja no que se forma porque depois
acaba por me esquecer que aquilo está lá mas alguma coisa física que eu
consiga levar comigo.
00:51:00
Filipe: E depois então no dia a seguir com aquela ideia já vou dar
seguimento a isso meu nos meus cadernos por exemplo quando eu uso como
às vezes tornam se um bocado estranhos e caóticos porque de repente em
post-its com várias coisas que eu tenho que ir organizando eu sei que
depois vai chegar uma ordenação mas ... vai sim fazer sentido vai
sempre fazer sem parar quando acaba por não fazer mais. Mas acima de
tudo é um processo um bocadinho de ordenação de caos. Acima de tudo
portanto essa parte.
00:51:30
Filipe: Acho que uma boa definição de trabalho da estratégia nós somos
nós estamos basicamente ordenar o caos. Temos informação que espoleta
qualquer coisa e essa informação na maior parte dos casos toma a forma
de um _briefing_ e de objetivos e metas que queremos cumprir e o que é
que nós temos que fazer até conseguir chegar e chegar até lá. O problema
é este intermédio porque nós sabemos isto agora. Simplificando nós
sabemos que queremos crescer nossa comunidade numa rede social ou
queremos ter mais visitas num site que é este objetivo que também está
ligado ao objetivo de negócio que é uma motivação. Mas depois o problema
é nós sabemos o que é que queremos e o que é que temos que fazer. Mas há
um processo no meio que é preciso ordenar explicar e acima de tudo
construir uma linha de pensamento que seja sustentável para o futuro.
00:52:21
Bruno: Criar caminho e direcção.
00:52:23
Filipe: Criar um caminho dar uma direção. Quando nós passamos até da
transposição da estratégia pura para as diferentes para os diferentes
tipos de diferentes especializações de estratégia vá lá é quase um
bocadinho ok se for para conteúdo nós vamos criar um briefing para que
aquilo que seja possível e para isso é preciso existir este racional.
Qual é o objetivo? Porque é que nós estamos a fazer isto? Para quem é
que estamos a falar? Quase que são é quase uma... fazer todo aquele
processo de pesquisa de mercado em tempo recorde, num par de horas, e se
simplificar aquilo e resumir aquilo em duas ou três frases que sejam
possíveis de alguém agarrar naquilo e pensar o que é chegar a estas
pessoas ou para criar conteúdo para estas pessoas. Vou fazê lo desta
maneira ou vou escolher este formato ou vou usar esta abordagem.
00:53:15
Bruno: E no meio dessa pesquisa toda talvez tenha encontrado algumas
tendências concorrentes que parecem interessantes para as pequenas
empresas e médias empresas. Certo Não?
00:53:28
Filipe: Muitas. A parte das tendências é um tema interessante da
estratégia. Nem sempre é fácil perceber se elas se vão concretizar ou
não. Há muitas que nos últimos anos têm claramente materializado. Há
muitas que já não são tendências mas continuam a ser apresentadas como
tendências. Ou seja já são já que já chegaram a dar um exemplo. Por
exemplo vídeos já não. Já não considero que seja uma tendência.
00:53:53
Filipe: Confesso que ainda não fui olhar para o mapa de Tendências
2020 - 2021 portanto não faço não faço ideia como é que as coisas estão
mas isto mesmo porque por preguiça não me apetece nesta fase Nesta fase
confesso que nesta altura do ano não me apetece. Mas a verdade é que
ainda ainda se vai falando muito estou a dar um exemplo. Como poderia
dar outro. Outra coisa qualquer. Mas não são aquele tipo de coisas que
são muito muito muito fechadas em si mesmo já já já foram uma tendência
e se calhar há quatro ou cinco anos atrás e agora já já não são
propriamente tendências já estão numa fase de implementação.
00:54:29
Filipe: Ainda não estão se calhar ao alcance de toda a gente. Eu acho
que isso continua se calhar a ser uma. Pode ser visto como uma tendência
porque as pessoas ainda não têm a só vontade e as pequenas empresas por
exemplo não têm e não têm esse à vontade. De todas as coisas que há duas
em particular acho que são mais intemporais. Hoje em dia ainda vão
demorar algum tempo até as vermos de uma maneira concreta a existir. A
primeira obviamente é um chavão e ou cliché da inteligência artificial
que está ligada àquilo que eu acho que é realmente a grande tendência
dos próximos anos que é a parte de automação e automação. Tem sido
falado muito nos últimos anos a vários níveis principalmente no nível do
marketing que seja a automação é algo que já se faz de várias formas em
várias indústrias. E nós estamos agora a tentar explorar a melhor forma
de fazer esta de fazer esta automação porque acima de tudo tem a ver com
a noção de simplificação de processos, podermos claramente passar a ter
mais tempo para tarefas um pouco mais nobres. E eu acho que é uma
tendência que vai ser um bocadinho bifurcação nos próximos anos.
00:55:35
Filipe: Tanto pode jogar muito a nosso favor como pode prejudicar nos
bastante.
00:55:39
Bruno: Eu perguntei inicialmente pelas pequenas e médias empresas
porque sei que tem mais facilidade em adotar tendências.
00:55:46
Filipe: Nalguns casos sim porque são mais ágeis ou seja têm tempo têm
processos de aprovação obviamente menores e conseguem fazer as coisas de
uma maneira um bocadinho mais rápida. Noutros casos têm menos _know
how_. Portanto as tendências eu acho que em termos de comunicação e
marketing claramente ainda temos uma pirâmide. Temos aqui uma pirâmide
invertida no sentido em que ainda que no topo ainda temos as grandes
empresas e cá em baixo as pequenas e médias empresas que a partir do
momento em que vêem as suas congéneres de maior tipologia a adoptar
determinadas coisas sentem se mais confortáveis para para ir atrás.
00:56:26
Filipe: Pegando no tema presente automação muitas vezes automação
principalmente em termos de processos de comunicação ou de plataformas
de comunicação. Pode não ser imediatamente adoptada neste caso em
particular porque os custos ainda podem ser demasiado elevados. Portanto
é por isso que eu digo isto é biforcado que estamos aqui num caminho que
pode nos trazer grandes vantagens é verdade mas pode nos trazer também
algumas desvantagens e criar se aqui um processo quase de algumas
tarefas serem realmente substituídas.
00:56:59
Filipe: Porque já não é necessário haver um fator humano ali ali
metido ao barulho.
00:57:05
Bruno: E achas que daqui a cinco anos essa automação pode
substituir-te ?
00:57:09
Filipe: Eu gostava imenso ficava em casa apenas chocolate tinha um
Filipe-Bot que poderia ser como aquele da Microsoft que se tornou
rapidamente um nazi depois de o Twitter ter feito o que sabe fazer
melhor que é expelir ódio.
00:57:25
Filipe: Portanto é para isso que aquilo serve. Já não é só para pôr
fotos do pequeno almoço. Eu não sei se serei substituído eu não sei. Meu
papel daqui a cinco anos ou mais até. Não sei se não será modificado tal
como em 2013 nossa percepção era uma hoje em dia já é outra eu acho que
também vamos evoluir. Eu não sei se o papel do estratega será totalmente
substituído, e aqui pegando o tema que eu estava a falar aí que eu sinto
pode ser a grande desvantagem. Principalmente a parte de _data_ hoje
em dia nós já vimos muitas ferramentas que estão a tentar oferecer
aquilo que eles chamam os _insights_ automatizados. E a questão é
(sim, Analytics estou a falar contigo.) E a questão é que aquilo que por
exemplo no caso do Google Analytics nos oferece hoje em dia não é um
_insight_ simplesmente são dados que estão que estão de alguma forma
foram sumariados mas de uma forma muito purista porque eu não vejo o
insight de como dizer que 80 por cento das visitas vieram não sei de
onde é. Este é um dado que pode nos trazer um insight ou seja o
_Insight_ o que eu posso fazer com esta informação o que pode estar a
acontecer e isso é um perigo grande nós tentarmos ter essa essa
substituição no entanto se não formos daqui a uns anos todos pilhas para
para robôs que estão a dominar o mundo. Eu diria que sim pode pode
acontecer esta função em particular que já tem sofrido algumas
modificações nos últimos anos e cada vez mais eu acho que a grande
modificação daqui a uns anos é que vai se pedir cada vez mais uma visão
global aos estrategas e já não vamos ter só estrategas de conteúdo ou
estrategas de _social media_ ou estrategas de _above_, _bellow_,
digital, o que quer que seja ter alguém que consiga cada vez mais ter
esta visão global e ter de saber um bocadinho de cada uma destas áreas,
das que ainda subsistirem obviamente, e acima de tudo ter uma visão mais
macro e ao mesmo tempo mais micro que eu acho que é o grande desafio
para conseguir juntar estas pecinhas todas e deixar que as estratégias
não sejam coisas às vezes tão esotéricas e tão críticas. Como é que isto
vai pôr em prática e serem visões muito alinhadas até com o negócio que
estão no caso da comunicação. Um dos grandes desafios é como é que isto
se alinha todas as nossas ideias e os nossos caminhos como é que eles se
alinham com o com a parte do negócio. Mais uma vez voltando ao passado
era muito mais fácil porque ninguém se preocupava com isso e é verdade
nós não tínhamos tanto essa preocupação.
00:59:56
Bruno: Sim havia uma sensibilidade de que temos que estar nas redes
sociais.
01:00:01
Filipe: Voltando ainda mais atrás, temos que ter um site. Hoje em dia
e acho que o futuro passa se calhar cada vez mais. Gostaria que o
caminho passasse ia ao ok tudo isto faz muito sentido. Como é que
efetivamente cada uma destas coisas vai ajudar o negócio? E aqui
independentemente de estarmos a falar para uma empresa pequena, média,
uma microempresa, uma mega empresa. Acho que o processo acaba por ser
muito este.
01:00:27
Filipe: É claro que nas pequenas e médias empresas e microempresas
muitas vezes este papel da estratégia tem que ser do detentor do
negócio. Porque se calhar não faz sentido na fase em que eles estão de
crescimento ter alguém externo a ser pago para pensar naquilo que eles
têm de fazer para fazer crescer o seu negócio e acima de tudo criar uma
cultura quase uma identidade e uma voz para o seu próprio negócio.
01:00:50
Filipe: Portanto resumindo e voltando à questão eu não sei se serei
totalmente substituído. Não me importava de ter um auxiliar Automático.
Não importava ter um clip daqueles que foi porque ainda se lembra do
Office no menu do clippy. Não me importava de ter algo que me ajudasse.
Algumas destas destas tarefas que vão surgindo e que surgem normalmente
no dia a dia.
01:01:19
Filipe: Não sei se será totalmente substituído mas se não tivermos
cuidado naquilo que aquilo que queremos fazer e que queremos automatizar
totalmente usando algumas noções que nós temos hoje em dia vão ser
deturpadas ou trocadas. Portanto, poderei podia ser fácil alguém
subscrever uma plataforma de estratégia digital que é só com o clique do
botão e criamos a estratégia que claramente já existe para tudo e mais
alguma coisa. Um dia também existirá certamente essa função e aquilo que
vamos ter basicamente são fórmulas repetitivas ou não dependendo de como
é que a inteligência artificial evoluir. Mas é possível que algumas das
coisas que eu faço hoje em dia já estejam mais automatizadas. Eu espero
que a parte de discussão que é o que eu acho que alimenta o trabalho da
estratégia acima de tudo a discussão dos resultados a discussão de como
é que está o mercado como é que está o negócio como é que está a
concorrência. Trazer para cima da mesa questões importantes espero que
essa parte obviamente não se perca. Se houver uma máquina que o faça e
eu possa estar em casa sossegadinho, ter uma vida, aquilo que se
ambiciona hoje em dia nesta vida quase utopia uma vida mais desocupada
ter que ter preocupar mais com o eu e se calhar só com o meu crescimento
pessoal, talvez aconteça.
01:02:40
Bruno: Quem sabe. Mantendo esse tema das viagens no futuro e ao
passado. Se pudesses voltar atrás e saber qualquer coisa que sabes agora
que coisa é que isso seria?
01:02:55
Filipe: Eu diria logo, "olha, estudasses mais e fosses para médico"
01:02:59
Filipe: Não, estou a brincar. Não é. Não era todo. Não não era de
todo. Nunca fui bem minha a minha apetência. Eu acho que a única coisa
que poderia dizer que não iria fazer sentido isso nunca foi nunca faz
sentido uma pessoa de vinte e poucos anos não tenhas pressa. E acho que
acho que foi a lição a lição que fui aprendendo ao longo dos anos. Às
vezes eu não ter pressa aqui e nós saímos da faculdade cheio de ideias e
sonhos e acima de tudo temos aqui algo, alguma noção para onde é que
gostaríamos de ir e alguma ambição e aquilo também que nos incutem que
deverá ser o nosso papel na sociedade e de repente vemos um papel muito
oposto.
01:03:40
Filipe: Não vemos no papel de quem começa uma carreira e estamos ali a
começar às vezes pela pelas coisas mais pequeninas e não percebemos
muitas vezes que todo todas aquelas pequenas tarefas que vamos fazendo
por algum motivo contribuem para aquilo que vamos que vamos entregando e
que vem acontecendo.
01:03:56
Filipe: Acho que era mesmo o não tenhas pressa. Até mais numa lição de
humildade de muitas vezes vaidades propícias para para ter determinadas
responsabilidades para ter determinados projetos e eu sei que sempre fui
muito impaciente e que sempre quis chegar muito muito depressa e sem ter
muitas vezes a maturidade para lidar com determinadas situações.
01:04:20
Filipe: Portanto era mesmo o "não tenhas pressa" o _keep calm_,
coisas vão acontecendo e acho que é um a única e única pérola de
sabedoria que poderia partilhar. E eu acho que iria ignorar-me "mas o
que e que este gajo sabe?"
01:04:36
Filipe: Mas acima de tudo era este não ter pressa há um tempo para
tudo às vezes não não percebemos no momento em que estamos mas há um
tempo não diria que uma razão para tudo mas há um tempo para tudo. Há
projetos, há alturas há cargos, há pessoas, quer dizer as coisas
acontecem numa determinada altura e muitas vezes acontecem na altura
certa e muitas vezes também olhamos para trás e vemos projetos que
correram menos bem ou situações que não foram tão positivas exatamente
porque se calhar já estávamos a tentar, pelo menos falo por mim, que já
estava a tentar ocupar uma posição para a qual não tinha nem maturidade
nem o conhecimento.
01:05:13
Filipe: Não digo que não tivesse mas não tinha a maturidade necessária
para lidar com algumas das exigências dos cargos ou das outras das
situações que foram se foram que foram acontecendo.
01:05:24
Bruno: E esse conselho que também dás a quem está agora a começar
nesta área?
01:05:27
Filipe: Também. Às pessoas que estão a começar neste momento que
obviamente vão ouvir o "não tenha pressa" e vão dizer "pah, este gajo
não sabe o que está a dizer. O que é que ele sabe da vida?"
01:05:39
Filipe: Eu acho que há três coisas que são fundamentais para quem
começa hoje em dia e nós as que já sentimos isso com quem com quem
apanhamos com alguns anos de experiência. Parece que cada vez mais aqui
o conhecimento é cumulativo e as pessoas hoje em dia têm uma parte do
conhecimento nós temos outra. As gerações as diferentes heranças que se
vão cruzando. Começa a ser interessante percebermos estas diferentes
coisas. Há coisas que vêm mais bem preparados do que nós pessoalmente
tecnicamente para expressar coisas que faltam de outro tipo de
aprendizagem. Portanto "não tenhas pressa". Seria mais ou menos
universal e há duas coisas muito importantes e as pessoas manterem se
curiosas. Acima de tudo e o curioso aqui não é só querer saber mais mas
muitas vezes fazer perguntas e não ter medo de fazer perguntas.
01:06:23
Filipe: Principalmente para quem tiver menos anos de experiência e
estiver a ouvir isto. Não há nada. Não há nada melhor do que os
primeiros em que nós podemos dizer todas as barbaridades que nos dá a
desculpa somos novos não temos experiência. Portanto é a melhor altura
da nossa carreira para fazer perguntas parvas. Portanto não ter pressa.
O ser curioso e acima de tudo uma percepção que acho... pode faltar em
determinadas em determinadas alturas da vida que nós estamos sempre a
aprender. E nós nunca podemos parar de ir aprendendo. Nós nunca podemos
parar. Eu posso já não estar tão envolvido em determinadas coisas hoje
em dia mas de vez em quando vou ver o que é que anda a acontecer para me
manter mais ou menos atualizado.
01:07:06
Filipe: E rapidamente o conhecimento que nós temos do de um curso
superior de uma formação do que quer que seja. Não interessa qual é. Com
a colaboração da dessa mesma formação rapidamente fica desatualizado.
Estamos a falar de coisas que se calhar no espaço de dois anos de
repente já não são válidas. E é este este mercado e esta esta noção de
ritmo frenético vê se cada vez mais mas nós nunca podemos parar de
aprender.
01:07:36
Filipe: Portanto se achamos que tirámos uma licenciatura, pós
graduação mestrado ou doutoramento e isto nunca nos vai dar as
ferramentas totais para para isso. Portanto são três coisas muito
simples não ter pressa. Ser curioso e continuar a aprender e continuar a
querer aprender continuar a aprender ou continuar e continuar a aprender
a querer aprender.
01:07:58
Filipe: E nesta parte em particular perceber que é não só da parte
técnica mas acima de tudo pensar nas experiências e nas interações que
temos com todas as pessoas com quem trabalhamos com quem vamos lidando.
E perceber que todos nós vamos tendo um bocadinho a ensinar o bom e o
mau. Às vezes também se aprende muitas coisas mas o que não queremos ou
devemos fazer é ter sempre esta. Esta parte deste espírito o espírito
muito aberto para parte da aprendizagem. Basicamente é isto. Quem form
muitos anos mais novo do que eu provavelmente vai me ignorar. E acho que
é óptimo que vai cometer exactamente os erros e muitos erros que nós
cometemos pelo caminho, que é ótimo. Não vou entrar naquele clichê de
falhar rápido _whatever_, já não me lembro como é que as startups
dizem nem quero saber, mas acima de tudo ter muito esta percepção de nós
vamos falhar vamos errar mas se nós não tivermos esta pressa e saber que
faz parte do processo vai se tornando um bocadinho mais fácil. Isso digo
eu agora, porque se calhar há uns anos atrás não acharia obviamente isto
e o que eu queria era num ano ou dois já já saber o que tinha para saber
e já estava no uma posição de chefia com 20 pessoas. Isto é importante e
é normal esta pressa acho que faz parte.
01:09:09
Bruno: Muito obrigado por teres vindo ao LabCom partilhar a tua
história, Filipe.
01:09:15
Bruno: Este episódio não podia terminar sem agradecer a quem nos está
a ouvir. Espero que tenhas gostado. Se gostaste do episódio, partilha
com alguém com interesse por esta àrea. Para ficares a par de tudo,
podes juntar-te à comunidade do Instagram e Twitter em *labcomfm* e no
site do labcom.fm .